quarta-feira, 8 de julho de 2009

Indios

O texto de Gersen Luciano dos Santos - Baniwa, trouxe-me muitas lembranças da época em que fizemos atividades conjuntas, o MARSUL (Museu Arqueológico do RS) através de minha pessoa como diretora, na época, e os dois grupos que habitavam os espaços de reserva do município de Riozinho. Os Guaranis do Campo Molhado e do Km 45, como eles mesmos denominavam seus respectivos locais de moradia. O Campo Molhado ficava bastante distante da cidade de Riozinho e nunca tive a oportunidade de subir até lá. Mas tanto os sujeitos de lá como do Km 45, mais abaixo, frequentaram o MARSUL. Na época eram ministradas palestras sobre a existência de sítios arqueológicos no Brasil com ênfase para o RS, e a caracterização dos respectivos povos que os constituiam. Diariamente recebiamos 2 a 3 escolas. Pelo menos uma pela manhã e outra a tarde. Cheguei a fazer várias conversas com as crianças falando sobre o tema. Surgiu-nos então, da parte da equipe do Museu, que aliás era muito pequena, a idéia de solicitarmos alimentos não perecíveis, roupas e calçados para serem enviados a esses grupos que viviam bastante mal, pois a região onde situavam-se as reservas não eram ricas em termos naturais. A de baixo se configura em um quase precipício e o Campo molhado, muito pedregoso, frio, sem grandes possibilidade de plantio, ou seja, de sobrevida da própria terra, como seria da cultura desses dois grupos. Mais tarde, preparamos uma grande exposição de quadros com fotografias dos dois grupos. Muito lindas. De aspectos de sua vivência nas reservas. Artesanato, cestarias, relações familiares, etc.. Foi inaugurada no dia 27 de abril de 2002. Passaram quase 2.000 pessoas entre avulsos e escolas, pela exposição, no Museu, apreciando as fotos e o artesanato. Nesse dia, foi vendido muito artesanato, as escolas reuniram-se com alguns deles e houve muita informação passada dos Guaranis para não indios. No dia anterior, à noite, houve a inauguração oficial, com a presença da esposa do então vice-governador Miguel Rosseto, que também trabalhava as questões de defesa dos direitos dos povos indígenas. Muitos estudantes da UFRGS, PUCRS, FEEVALE, UNISINOS , ULBRA estiveram presentes, assistindo ali e durante mais dois dias, palestras sobre a questão da identidade desses povos. O cacique Avelino e o cacique Felipe Brissuela falaram sobre alimentação, religiosidade, sustentabilidade, relações familiares e sobre outros temas que iam se gerando por meio de perguntas. Durante, três dias e meio, estiveram acampados dentro do Museu e em sua área externa, cerca de 120 pessoas. Vieram das duas reservas mais de 70 Guaranis. Mulheres, crianças, homems, velhos... No sábado houve uma palestra com um professor da UFRGS que mostrou aos Guaranis a cestarias produzidas por Kaingangues, com explicações sobre simbolismo e identidade. O cacique Avelino, exigiu que todas as mulheres assistissem a palestra e vissem as imagens projetadas, na época,no projetor de slides. Todos comentava muito entre si, embora não entendessemos. Ficaram muito atentos sobre os costumes de seus parentes. Depois, infelizmente, me retirei do Museu para dar aulas, o que também é bom, porém me distanciei do contato com os Guaranis. No ano seguinte ainda, o cacique Miguel veio até as escolas em que passei a lecionar e também fez uma palestra para os alunos, aém de demonstrar dança, canto e música com suas filhinhas e seu violão. Sempre procurei trazê-los para que as pessoas pudessem sensibilizar-se sobre a situação em que vivem e esclarecer sobre o modo de vida desse povo. E na medida do possível com algum retorno de sustentação para eles.

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