quinta-feira, 11 de junho de 2009

PSICO II

Análise.

No texto de Piaget, “Os estágios de desenvolvimento intelectual da criança e do adolescente” está colocado: “é necessário que primeiramente a ordem de sucessão das aquisições seja constante. Não a cronologia, mas a ordem de sucessão.” E mais adiante: “essa cronologia é extremamente variável; ela depende da experiência anterior dos indivíduos e não somente de sua maturação, e depende principalmente do meio social que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estádio, ou mesmo impedir o aparecimento de sua manifestação.” Ao ler esse texto, e observar minhas turmas, acabei fazendo a comparação de estádios em que se encontram e principalmente constatei o que já venho afirmando sempre, que o meio social pode não ser determinante, definitório, como alguns afirmam, mas ele prepondera. E acima de tudo gostaria de clarear que devemos entender o meio social como constituído por componentes culturais e econômicos. A própria cultura é permeada pela condição econômica. Certamente estou sendo repetitiva, mas ainda não fui convencida do contrário. Além disso, penso que se as crianças não podem expressarem-se em casa de forma harmônica, que se não existe o diálogo em casa, e que se a escola não abre espaço para que falem, não há como se desenvolver a linguagem, extremamente necessária para o desenvolvimento mental, para a construção das estruturas e esquemas de assimilação e acomodação. Por consequência, o desenvolvimento da escrita também pode ficar prejudicado. Para finalizar, preciso colocar que não estou me mantendo somente no nível das análises e constatações, mas tenho tomado medidas efetivas para auxiliar as crianças em seu desenvolvimento e uma delas é o início da realização de avaliações semanais, com a turma, sobre todos os aspectos da aula, a fim de que consigam aprender a falarem melhor, argumentarem e assim, sentirem-se ouvidas e com poder de decisão.

PSICO II

Na escola E.M.E.F. encontram-se 25 crianças dentro da sala. Doze delas variam suas idades de onze a quatorze, já quase quinze anos. A outra metade da turma situa-se na faixa dos dez anos. A grande maioria delas apresentam famílias em que um dos pais ou ambos estão desempregados ou prestam serviços temporários. Falta-lhes alimentação, em casa, a maioria vem para aula com febre, dor de dente, de cabeça, garganta, além de outras doenças contagiosas como hepatite, caso que aconteceu esse ano com um dos alunos e que foi detectado por mim. Essas crianças têm carência de roupas, brinquedos, não possuem computador, nem aparelhos de CD, uma ou outra criança, somente. A maioria dos pais não consegue vir à escola saber de seus filhos ou não se interessa realmente. As crianças, quase não tomam banho, e no turno oposto ao escolar, ficam pelas ruas, vão à rios, arroios, tomar banho sozinhos, ou cuidam dos irmãos. Nem sempre auxiliam na casa. Em casa, muitos pais (homens), bebem, o casal briga muito e até comete atos de agressão, algum familiar, irmão, tio, pai, está envolvido com drogas e todos brigam muito com as crianças, inclusive batendo nelas, ou na outra polaridade, não se importam com o que fazem. Em aula, a maioria delas apresenta-se no estádio operatório concreto, mas recém entrando nele. Mesmo os de quatorze anos. Além do mais percebe-se características de estádios anteriores. São pouco cooperativos, só se acalmam sob ordens severas, (o que me causa muita tristeza), agridem-se muito, discutem sem conseguir argumentar, ficam afirmando ou contra-afirmando: é X não é, sei X não sei ( estádio das representações pré-operatórias). Sentem muita vergonha de falar em frente aos outros, gostam de dançar e cantar, mas encenar, não muito. A escrita apresenta muita dificuldade. Muitas vezes, de cinco palavras escritas, todas possuem erro ortográfico. Não articulam início, meio e fim e ficam se repetindo, daí, daí, daí e repetem a mesma frase, todinha.

PSICO II

Esse ano, estou lecionando duas 4ªs séries, como já me referi em diversas outras postagens, seja no blog ou nos fóruns ou mesmo, em textos solicitados pelos professores. As crianças das duas turmas, apresentam desenvolvimento da expressão oral e escrita completamente diferentes. Na E.E.E.F., as crianças são oriundas de classe média baixa, tendendo à média, possuem famílias um tanto estruturadas, com pais que possuem empregos mais estáveis, que acompanham o processo de desenvolvimento escolar das crianças, que cuidam de sua higiene, que procuram participar auxiliando a escola em suas necessidades. Muitos tem carro, as crianças vão ou voltam com transporte escolar, as crianças, em casa, tem DVD, computador, aparelhos de CD próprios, passeiam com os pais, e conversam muito com eles.No turno inverso, ficam em casa ou vão a algum curso. Auxiliam na casa ou cuidam de irmãos. Essas crianças, na escola, apresentam seus estádios de desenvolvimento de socialização, gênese do pensamento e afetividade muito mais par e passo com sua idade cronológica.(estádio operatório concreto) Não quero dizer com isso, que não tenham inúmeros problemas tanto econômicos como familiares e sei que precisam de grande orientação para o aprendizado. Note-se, também, que não estou afirmando que “estão no estádio” categoricamente. Nas aulas, dançam, cantam criam, são mais harmônicas, menos violentas em suas condutas umas com as outras. Cooperam bem mais que seus coleguinhas de séries anteriores e já argumentam melhor. Na escrita, apresentam poucos erros ortográficos e maior articulação da escrita. Como exemplo, em um trabalho, uma menina, escreveu três historinhas que ocuparam três páginas de caderno e fez três erros de ortografia.

PSICO II

Sob o enfoque Piagetiano, cada vez mais identifico situações em sala de aula, não observando somente agora, as duas 4ªs séries para as quais leciono, mas relembrando as turmas de 1ª série, 2ª e 3ª, assim como no ano passado o 1º ano, onde as crianças estavam na faixa dos seis anos de idade. Especificamente, nas 1ªs séries e mais ainda no 1º ano, entendi a “conversalhada” que faziam o tempo inteiro, durante todo o período de aula, seja na rua, no pátio ou dentro da sala. Apesar de muitos anos trabalhando com os pequenos, comecei a perceber que conversavam cada vez mais. Algumas vezes cheguei a pensar que eu já estava muito cansada e, que por isso estava exagerando em minhas observações, mas não, Piaget através de seus escritos me fez ver que realmente essa característica é própria dessa idade. Ele se refere a isso como um “monólogo coletivo”, em que as crianças estão mutuamente se excitando à ação, mobilizando seus esquemas interiores, assimilando as situações que vivencia e acomodando essas assimilações com o auxílio da fala, ainda que pareça estar dialogando com seus coleguinhas. Certamente o diálogo está acontecendo, mas subjacente a ele, o que existe é um monólogo. Confesso que fiquei mais aliviada, pois como trabalhava quase sempre em grupos, a aula estava sempre agitada, o que atraia “olhares fiscalizadores de disciplina” sobre a turma e a mim. Pelo menos não pequei tanto com eles. Conseguiram este espaço tão importante e com exceção de quatro deles, todos saíram lendo e escrevendo do 1º ano e brincaram muito, também. Gostaria de ressaltar que esse aspecto se encontra na análise da socialização da ação em Piaget.